quinta-feira, 6 de março de 2014

Crítica– The Place Beyond the Pines – 2013 – Derek Cianfrance

Estou rendido.

Antes deste, tinha assistido a «Prisoners», um thriller desafiante de grande qualidade. Só que o destino tinha um «Jack in the Box» à minha espera: e dele, apanhei um Knock-out glorioso.

«The Place Beyond the Pines» não pode ser classificado normalmente. Insere-se em vários géneros (acção, comédia, policial, «teen-drama», romance,…) e não se deixa prender especialmente por nenhum deles. A camara de Derek Cianfrance (Blue Valentine) delicia-se de tal forma com os corpos dos seus actores e com a beleza natural da Nova Iorque suburbana, que quase a sentimos a lamber os lábios de sofreguidão.

É um sentimento raro no cinema americano actual, mas que aqui existe em abundância.

Um motoqueiro de «bolas da morte» (Ryan Gosling, electrizante, tal como o tinha sido em «Drive») recebe a notícia que um antigo «engate» seu (Eva Mendes) teve um filho de ambos. Gosling decide deixar a sua vida de incertezas e dedicar-se a sustentar o filho: mas vem a descobrir que por muito que se esforce, não se consegue afastar de quem realmente é.


É verdade: não podemos escapar de quem nós realmente somos; a nossa verdadeira natureza irá acabar por surgir e tomar conta das nossas acções.

E isto é apenas o início daquilo em que o filme te vai pôr a matutar, por isso aguenta firme que a tempestade vem a caminho.

Epá, mas não deixes que isto te faça pensar que vai ser uma seca: nada do género! Admito que algumas cenas de cariz familiar foram alongadas um pouco, mas isso não altera o ritmo fantástico que te é oferecido.

Desde corridas de motas a alta velocidade, tiroteios, festas de secundária cheias de álcool e drogas, suspense e intrigas policiais em larga escala… Aqui encontras tudo, e melhor ainda: está contextualizado, com desenvolvimento de personagens e sempre desenrolando o novelo da história.

Existe um magnífico sentido de naturalidade na maneira como tudo foi filmado: são acontecimentos extraordinários, capturados, por acaso, numa camara.

Ray Liotta, Rose Byrne, Dane DeHaan e Emory Cohen entram e saem de plano, sem pretensiosismos de vedeta: são apenas intervenientes alheios à sua participação nesta odisseia moderna.

Odisseia essa que não ficaria completa sem Bradley Cooper. Eu não sou grande fã, mesmo depois de o ver em «Hangover» e «Silver Linings Playbook». Mas tenho que admitir, que para a personagem que interpreta, foi uma escolha de casting acertada: um inteligente polícia com um forte sentido de justiça, presente apenas naqueles calmos momentos em que ninguém o observa ou condena. O homem tem carinha para este tipo de papéis: mas não vejo potencial para muito mais.

Mas hey! Se até o Matthew (totó) Mcconaughey se tornou bom actor, quem sou eu para duvidar de alguma coisa?

De alguma forma, o fim do filme (o sol sobre as montanhas, a paisagem verdejante e uma estrada que serpenteia para o inevitável desconhecido) sugeriu-me algo maravilhoso e melancólico…

As escolhas que cada personagem faz têm consequências? Sim.

«Não podemos escapar de quem nós realmente somos»? Sim.

Se isto é verdade, então as consequências do que fazemos é em resultado da nossa própria natureza única.

Por outras palavras, meus amigos, este filme é uma apaixonante fábula sobre a consciência humana de algo mais profundo que qualquer sentimento ou laço afectivo: esta é a história de alguém que descobriu o que é o destino.

Existem alguns problemas menores, como algumas (poucas) cenas menos interessantes e o facto de Cooper ainda não me ter convencido plenamente. Mas são ninharias comparadas com a magnificência do épico que tens em mãos

Estou rendido.

«The Place Beyond the Pines» fez-me render a alma. É uma experiência cativante e única: e só me abstenho de atribuir a maior pontuação possível porque acabei de o ver.

Simon Says that this movie is...



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